Quando perguntado qual é carteira de investimentos perfeita para um investidor, em média, os vencedores de prêmios Nobel de economia têm uma resposta altamente consistente. Ninguém aconselha investidores amadores a comprar ações a um preço baixo e vender a um preço alto. Ninguém aconselha alocar recursos em fundos que tentam superar o mercado. Ninguém aconselha investir a maioria do seu capital em imóveis. Ninguém aconselha deixar grandes quantias de dinheiro estacionadas em sua conta corrente. Ninguém aconselha investir em criptomoedas (bitcoin). Por outro lado, todos eles aconselham a diversificar internacionalmente e comprar fundos de índice de mercado total de baixo custo ou ETFs (como o Bova11 na ibovespa).
Essas dicas uniformes não são mera coincidência. Eles dizem isso porque os melhores dados e modelos sugerem predominantemente que essa é a melhor maneira de investir. Em média, para a maioria dos investidores, se você seguir essas dicas, terá retornos mais altos e riscos mais baixos. Essas dicas deveriam ser basicamente indiscutíveis. No entanto, a maioria das pessoas ainda detém uma quantidade enorme de seu portfólio no setor imobiliário (e.g. Wolff, 2017), deixa o dinheiro estacionado em contas correntes, tenta selecionar as melhores ações e/ ou investe em fundos gerenciados ativamente. Quase ninguém investe internacionalmente e relativamente poucos investem em fundos de índice de mercado total de baixo custo ou ETFs.
Portanto, por que as pessoas insistem em investir incorretamente? Por que basicamente ninguém segue o que os vencedores de Nobel e os dados dizem? Parte da resposta é muito simples, as pessoas simplesmente não conhecem os dados e os modelos financeiros mais avançados. Praticamente ninguém lê o trabalho dos ganhadores de Nobel ou acompanha os desenvolvimentos mais recentes no campo dos investimentos. Portanto, eles investem no que acham melhor para eles, dadas as informações que possuem, ou seja, a racionalidade limitada (Simon, 1955; 1979). Por exemplo, o campo acadêmico já sabe há décadas que os fundos que tentam superar o mercado dão menos retornos do que a média do mercado depois de contabilizar suas taxas (Jensen, 1968). Portanto, é melhor para os investidores investir em fundos de índice ou ETF que simplesmente seguem o mercado de ações do que estacionar seu dinheiro com investidores profissionais que escolhem quais ações subirão. No entanto, quando Robert Shiller, Prêmio Nobel de 2013, fez aos investidores a seguinte pergunta, ele descobriu que menos de 1/3 dos entrevistados disseram que escolher os melhores fundos gerenciados ativamente é uma má idéia.
"Tentando escolher fundos de investimento, tentando descobrir quais fundos têm especialistas que podem escolher ações que vão subir, é:
1. Uma coisa inteligente para tentar fazer; Eu posso razoavelmente esperar ter um sucesso nisso. 50%
2. Não é uma coisa inteligente para tentar fazer; Não posso razoavelmente esperar ter um sucesso nisso. 27%
3. Sem opinião. 23%"
Além de que não conhecer os dados, uma infinidade de fatores influencia indivíduos a tomar más decisões de investimento. Mesmo quando os investidores têm todas as informações, eles muitas vezes se comportam de maneira irracional. Ou seja, eles não fazem o investimento que lhes dará melhores retornos e riscos menores do que os que eles têm atualmente. Uma das razões pelas quais isso acontece é que muitos investidores não são muito influenciados por dados históricos e modelos financeiros, pois os veem como vagos. Os investidores tendem a dar muito mais peso nas experiências que eles viveram (Shiller, 2000). Por exemplo, os investidores japoneses são muito mais relutantes que do que os norte americanos quando você diz que os mercados de ações tendem a se recuperar relativamente rápido após períodos de crise econômica. Isso acontece em parte porque o índice do mercado japonês (Nikkei) ainda está sendo vendido pela metade do preço de pico em 1989 (Shiller, 2000). Os investidores americanos ainda vivos, por outro lado, nunca tiveram uma experiência como essa. Brasileiros que viveram a década de 80 e o período Collor tendem a ter um medo desproporcional com inflação e congelamento de contas bancárias. Essa falta de confiança nos números pode levar a uma carteira de investimentos com relativamente baixos retornos e altos riscos, mesmo que o investidor conheça todas as melhores informações sobre investimento. O subcampo que estuda essa "irracionalidade" em economia é chamado de finanças comportamentais. Nesta seção, exploraremos 3 outros fatores apoiados pelos melhores estudos que ajudam a explicar por que muitas pessoas tendem a adotar carteiras de investimento com baixos retornos e riscos altos:
1. As pessoas são influenciadas pela sociedade (comportamento de manada)
2. As pessoas têm excesso de confiança
3. Aversão ao Risco
"Nunca subestime a dificuldade de mudar as falsas crenças pelos fatos" - Henry Rosovsky, Dean emérito da Universidade de Harvard.
"Estou de acordo com Henry Rosovsky [...]. Estamos criando gerações inteiras que consideram os fatos como mais ou menos opcionais. [...] [As pessoas] não estão aprendendo que é importante saber o que você está falando. É importante ouvir o ponto de vista oposto e mais importante aprender a distinguir se o ponto de vista A e o ponto de vista B são diferentes e qual tem mais evidências ou lógica por trás disso. [As pessoas] desconsideram isso. Eles ouvem qualquer coisa e acreditam." - Thomas Sowell, pesquisador sênior da Hoover Institution na Stanford University. Ele também é considerado um dos principais nomes da escola neoliberal. |
Fontes:
- Jensen, Michael C. (1968). "The Performance Of Mutual Funds In The Period 1945–1964," Journal of Finance, American Finance Association, vol. 23(2), pages 389-416, May.
- Shiller, Robert (2000). Irrational Exuberance. Princeton, N.J. :Princeton University Press.
- Simon, Herbert. A. (1955). A behavioral model of rational choice. Quarterly Journal of Economics, 69, 99–118.
- Simon, Herbert. A. (1979). Rational decision-making in business organizations. American Economic Review, 69, 493–513.
- Wolff, Edward N (2017). “Household Wealth Trends in the United States, 1962 to 2016: Has Middle Class Wealth Recovered?” NBER Working Paper No. 24085.